Aferição do dosímetro de ruído: garantindo conformidade e precisão na avaliação quantitativa.

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Prof Gustavo Rezende

Gustavo Rezende de Souza

Higienista Ocupacional Certificado – HOC 0117.

Registered Specialist EDA (296033 AIHA)

Engenheiro de Segurança do Trabalho.

Consultor técnico de higiene ocupacional na GV – Segurança e Saúde Ocupacional.

Professor visitante no curso de higiene ocupacional da Universidade de São Paulo – USP.

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Realizar a aferição do dosímetro de ruído antes e após as medições é uma etapa crítica para garantir a conformidade com a Norma de Higiene Ocupacional (NHO 01) “procedimento técnico: avaliação da exposição ocupacional ao ruído” da Fundacentro, que estabelece um delta de variação máximo de +/- 1 dB entre os valores obtidos antes e após a dosimetria.

Mesmo que o equipamento tenha sido previamente (ou mesmo posteriormente a medição) calibrado em um laboratório acreditado no escopo de acústica pela NBR 17.025:2017 “Requisitos gerais para a competência de laboratórios de ensaio e calibração”, a aferição é obrigatória para garantir a precisão das medições em campo, onde o dosímetro pode estar sujeito a diversas influências externas.

Um dos fatores que podem comprometer a aferição pós-medição é a dilatação da membrana do microfone. A membrana, que é geralmente feita de material sensível como polietileno ou outro polímero específico, pode sofrer deformações temporárias devido à exposição prolongada a altas temperaturas. Essas deformações afetam a resposta acústica, especialmente em altas frequências, alterando a sensibilidade do microfone, o que pode resultar em variações nos níveis de pressão sonora capturados (IEC 61094-4: 1995 “Measurement microphones – Part 4: Specifications for working standard microphones”).

Tecnicamente, isso ocorre porque o calor provoca a expansão térmica do material da membrana, modificando sua rigidez e, assim, a resposta dinâmica ao som. Isso é particularmente relevante em ambientes de trabalho como fundições ou locais expostos à luz solar intensa.

Outro aspecto relevante é a interferência por campos eletromagnéticos, que pode comprometer a integridade dos dados coletados pelo dosímetro. Equipamentos como transmissores de rádio, antenas de telefonia celular, transformadores de alta tensão e até mesmo motores elétricos podem gerar campos eletromagnéticos de intensidade significativa.

O estudo de interferências eletromagnéticas sugere que campos acima de 3 V/m podem começar a impactar a precisão de equipamentos de medição sensíveis, como dosímetros de ruído (IEC 61000-4-3: 2020 “Electromagnetic compatibility (EMC) – Part 4-3 : Testing and measurement techniques – Radiated, radio-frequency, electromagnetic field immunity test”).

Essa interferência eletromagnética pode gerar ruído adicional ou distorções nas medições de pressão sonora, mascarando os resultados reais da exposição ao ruído no ambiente de trabalho. Além disso, o dosímetro pode sofrer danos mecânicos, como colisões ou vibrações intensas, que podem desalinhar componentes internos.

Esses danos podem resultar em uma perda de precisão significativa, tornando o procedimento de aferição pós-medição ainda mais crucial para validar os resultados.

Quanto ao ajuste de aferição, os padrões técnicos indicam que ele pode ser feito tanto em 94 dB (equivalente a 1 Pascal de pressão sonora) quanto em 114 dB (equivalente a 10 Pascal de pressão sonora), sendo que a escolha depende do nível de ruído esperado no ambiente de trabalho. A recomendação é utilizar 114 dB caso o Sound Pressure Level (SPL) identificado na análise preliminar for superior a 94 dB(A), o que é comum em ambientes industriais pesados, como metalúrgicas e siderúrgicas (exemplos não exaustivos), onde os níveis de ruído podem facilmente ultrapassar 100dB(A). Já em ambientes com níveis mais baixos de ruído, é adequado utilizar o ajuste em 94 dB; evidente que essa prática se vale muito mais de parâmetros empíricos do que uma recomendação técnica consagrada em normas.

É importante salientar que a escolha de 94 dB ou 114 dB para as aferições não desqualifica o trabalho de campo realizado durante a medição, desde que o procedimento siga as diretrizes da NHO 01 e os limites de variação permitidos sejam respeitados.

Por fim, é imprescindível que todo o procedimento de aferição, tanto pré quanto pós-medição, seja devidamente documentado no relatório de dosimetria de ruído.

Isso não apenas garante a conformidade com a NHO 01, mas também assegura a integridade dos dados, fornecendo bases sólidas para a análise da exposição ocupacional ao ruído e para a implementação de medidas de controle efetivas.

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